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Marco Zero

A teledramaturgia nacional passa por uma fase de transição importante. A Favorita marca o início de uma nova era da novela brasileira, ou seja, da maior rede de produção de teledramaturgia mundial: a Rede Globo. (para os fãs de séries, tipo meu amigo Caio Rafael, ela pode não parecer, mas é sim. Afinal nenhuma outra rede de TV do mundo vende um mesmo produto para mais de 50 países)

A Favorita não alcançou o (maldito) ibope alto. Senhora do Destino, que é, das novelas da última década, a mais convencional do mundo, atingia seus 64 pts com picos de 70 e 80% de share. Para quem não entede: isso é muita coisa... A Favorita forçando chega a picos de 40.
Em outros tempos a primeira providencia da Rede Globo de Televisão seria explodir o shopping (Torre de Babel); causar um terremoto (Anastasia, a princesa perdida); destruir os planos de ousadia do autor (Suave Veneno) ou apelaria para cenas de amor entre o casal central (milhões de exemplos).

No atual cenário de investimento bem sucedido (em certos aspectos) das outras emissoras no nicho de mercado, a Globo, que não é besta, decidiu ir na contra-mão. Sabendo do material absurdamente bom que tem em mãos com o texto de João Emanuel Carneiro, investiu no risco. Comprovado na chamada que passou no primeiro intervalo do Jornal Nacional de hoje, com uma "matéria" onde os entrevistados, anônimos ou não, opinavam sobre quem é o diabo em pele de vaca, Donatela ou Flora.

Outro ponto onde se nota esse investimento por parte da emissora é o fato de não haver merchandising nesta novela. Isso significa que todo aquele rebuscamento, jogo de espelhos, iluminação cara e equipamento digital, milhões de externas e a pouca audiência, está tudo sendo pago sem incluir na novela cenas ridículas de fulano vendendo Avon, coisa que nem Silvio de Abreu escapou... (no almoço da casa de Copola tinha um refrigerante na mesa e o rótulo sequer apareceu)

Com a chegada da tecnologia digital e o telespectador que agora passa a ser "usuário", aquele que converge TV e Internet e fica imerso na informação que é agregada de muito conteúdo aleatório, a Globo cria uma trama que prende, é a novela que precisa ser escutada e vista com olhos abertos e de frente. Sei que soa pleonasmo, mas quantas vezes a novela ficou passando enquanto você está no telefone, ou comendo, ou jogando no computador? E mais, mesmo com uma trama que exige atenção, o fato de investir em conteúdo extra (as chamadas imitando jornais, o site com "recortes de jornais da época do assassinato de Marcelo Fontini"...), tudo isso é prova de que a Globo sabe que precisa se preparar para a nova era da TV, não apenas tecnicamente como faz a Record, ou até mesmo a Rede TV. A preparação é de conteúdo. Os números não mais representarão valores reais quando o telespectador puder ver a novela fora do horário de uma grade (isso acontece timidamente com You Tube e o próprio site dos canais).

Amanhã, com a REVELAÇÃO do segredo, anuncia-se uma nova novela. Mesmo que a coisa fique mais convencional, como já foi anunciado, A Favorita marcou época e mostrou a nova estratégia da maior emissora do país, 5ª maior do mundo.

5 Comments:

Luana! said...

Bom, eu acredito que essa tua critica acerca da convergência pode ser mais edificada futuramente, visto que em alguns pontos a tecnologização digital ainda se mostra comprometida.
Outrossim, se isso tudo interferir, de fato, no conteúdo, como tu já diagnostica, a novela talvez se torne um produto mais respeitado, q hoje. A propósito, a globo nao investiu em fórmulas passadas de puxar a corda do sanitário e vazar a novela, qdo ela não teve picos de audiência. A apelação ficou mesmo por conta das estipulações em outros programas.

E, se as novelas q seguirem A Favorita continuar no mesmo ritmo, eu vou continuar afirmando q tenho um puta amigo crítico de novelas, q me estimula a assisti-las, só pra voltar aqui e dizer: 'eu sabia q tu tocaria nesse ponto'.

Hehehehe

Beijooooooossssssssss

Pedro Canto said...

Luca: Puxou a corda sim, os exemplos de Suave Veneno e Torre de Babel são os mais claros, é so ver a sinopse e ver o que a novela se tornou.

Calro que com o talento de seus respectivos autores tudo acabou "bem".

Contro said...

Oi Pedro!
Gostei muito da tua nálise crítica da referida novela do horário nbre da Rede Globo de Televisão...Sabia que eu estava exatamente pensando algo como o que escreveste?
Não sou de assistir a novelas, mas essa novela tem algo que te prende, te faz pensar sobre como as coisas podem mudar de uma hora para outra em questão de segundos.
" A Favorita" tem um ótimo texto, uma ótima trama, acompanhada por atores espetaculares (diga-se de passagem Cláudia Raia está dando um SHOW!)que nos deixam muitas vezes confusos em saber que rumo a novela terá.
De fato poucas foram as novelas que fizeram o povo realmente pensar...
A única coisa que me deixa de fato triste, são os malditos números referentes a audi~encia da novela, que fizeram antecipar a descoberta do assassino da trama, pois acho que seria muito, muito interessante mesmo segurar essa dúvida até o fim.
Grande abraço para ti e se der, faz uma visita lá no meu blog ok?

Pedro Canto said...

Contro, pior que nao... o gostoso é que a coisa esta justamente como na sinopse e dando certo, a revelação feita com cerca de dois meses de novela e com a "digestão" primeiro pelo publico, e gradativamente pelos personagens da novela.

Rafael Carvalhêdo said...

Pedro! Não discordaria desse dado a respeito da Globo, mas discordo da qualidade das novelas, talves da narrativa de folhetim no geral, que pode ser mais, só não o é por tradição.

E as pessoas tendem a criticar a qualidade de uma novela apenas pelo grau de espetacularização dos eventos. Se for tão espetaculares quanto em A Senhora do Destino é uma novela boa. Se não for tão bom, como em uma novela como Agora é que são elas, então a novela não é boa. Há um esquecimento de elementos como a narrativa, personagens e etc.

De resto, concordo com tudo o que tu pensa sobre o futuro da teledramaturgia. Estava pensando justamente sobre isso, dessa novela ser uma preparação da Globo para o novo momento.