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Humildade

Aguinaldo Silva, a pessoa mais humilde da TV depois de sua amiga Susana Vieira, publicou em seu blog um ranking com as 15 novelas mais assistidas desde que o IBOPE começou a fazer acompanhamento diário (anos 80):

- Roque Santeiro – 67 pontos (Dias Gomes/Aguinaldo Silva)
- Tieta – 63 (Aguinaldo Silva)
- O Salvador da Pátria – 62 (Lauro Cesar Muniz)
- Renascer – 60 (Benedito Ruy Barbosa)
- Rainha da Sucata – 59 (Silvio de Abreu)
- Pedra sobre Pedra – 57 (Aguinaldo Silva)
- Fera Ferida – 56 (Aguinaldo Silva)
- Vale Tudo – 56 (Gilberto Braga)
- O Rei do Gado – 52 (Benedito Ruy Barbosa)
- De Corpo e Alma – 52 (Glória Perez)
- Senhora do Destino – 50 (Aguinaldo Silva)
- A Próxima Vítima – 50 (Silvio de Abreu)
- América – 49 (Glória Perez)
- A Indomada – 48 (Aguinaldo Silva)
- O Dono do Mundo – 47 (Gilberto Braga)

Tá meu bem...


ps.: O que mais me chamou atenção aí foi o terceiro lugar. Lauro César Muniz está ne Record e deve estrear uma novela lá por agora.

UPDATE#

Fiquei curioso e fui pesquisar algumas coisas.

Segundo outras várias fontes esses números não batem. Há por exemplo Mandala com 59pts, Belíssima com 49 pts, Meu Bem, Meu Mal 54pts... então eu não confio nem em um, nem no outro.

Mas que Aguinaldo SIlva é humilde, ele é!

Angels in America

Adaptações são sempre um tema complexo de se discutir, as opiniões sempre divergem, afinal é normal que uns se apeguem mais à uma linguagem do que à outras. Contudo, neste quesito há uma aula a ser assistida: Angels in America.

Já tinha ouvido falar dessa minissérie e tinha muita curiosidade de ver por conta dos nomes envolvidos neste projeto: Meryl Streep, Al Pacino, Emma Thompson e Mary-Louise Parker e vários outros dirigidos por Mike Nichols à partir da adaptação de uma peça. Os melhores trabalhos de Nichols, na minha opinião, são adaptados de peças (Closer e Quem tem medo de Virginia Woolf?).


O Enredo


Em 1985, na era Regan, os EUA estão mais consolidados do que nunca enquanto maior potência diante do enfraquecimento da União Soviética e é quase palpável o sentimento nacional de afirmação, mas que, nocivamente, vem junto com uma repressão muito grande fruto do conservadorismo republicano dominante. Neste contexto, o autor da peça, Tony Kushner, escolheu três esterioripos muito representativos para contar a história: Judeus, Negros e Homossexuais (Crença, Raça e Orientação Sexual), temperando a mistura (com perdão desta ironia infame), é colocado no caldo a AIDS, que nos anos 80 era O grande fantasma sobre a necessidade, e a possibilidade, de ser livre na América. Curiosidade é que dos escolhidos, o próprio Kushner representa dois, Judeu e Homossexual.



Atores

Mike Nichols tem fama de ser querido dos atores por conseguir extrair deles o melhor que sequer eles conheciam, agora imagine fazer isso com Meryl Streep...

Durante as 6 horas de minissérie é feita uma "brincadeira" onde alguns atores interpretam mais de um personagem, por exemplo Meryl chega a fazer um rabino, uma mãe mórmon, o fantasma de uma Judia condenada à morte e um anjo; Emma Thompson faz um mendigo, um anjo e uma enfermeira; e assim acontece com alguns outros. Isso pode ser lido de duas formas: Nichols brinca com o fato de ser uma adaptação teatral e reutiliza atores, coisa comum em teatro de baixo orçamento, ou, fazendo uma leitura mais profunda, podemos enchergar um propósito na repetição desses atores especificamente em dados papeis, como Emma ser a enfermeira de um paciente com AIDS e nos delírios deste também ser um anjo; Ou Justin Kirk interpretar o cara estranho que determinado personagem transa no meio Central Park após abandonar o namorado, interpretado pelo próprio Kirk.

Os seis personagens centrais e até as pequenas aparições são interpretados por GRANDES ATORES como James Cromwell em apenas duas cenas curtas e Michael Gambom como um fantasma/alucinação.



O Texto

Por se tratar de teatro, era de se esperar uma verborragia excessiva e muita eloquência nos diálogos. Mas ainda assim é surpreendente a qualidade do que foi escrito para esta minissérie.

Na verdade o roteiro não conta uma história muito grande, é simples resumir a vida de todos estes personagens, porém os diálogos são tão intensos e bem elaborados que ficamos grudados por 6 horas prestando atenção em algo que é tirado de dentro, de um lugar muito difícil de cutucar. Do lugar onde estes personagens escondem segredos que os envergonha e, pelo menos pra mim, é sempre muito complicado lidar com a vergonha alheia.

São tantos os momentos delicados que fica difícil escolher do que falar. Mas o que mais fica na minha cabeça é um texto de Mary-Louise Parker que nos surpreende com um otimismo quase infantil ao descrever uma "rede" de almas que entrelaçadas taparam o buraco da camada de ozônio e completa "Nada está perdido para sempre. Neste mundo, há uma espécie de progresso doloroso. Ansiando pelo que deixamos para trás e sonhando com o que está por vir."

Há também o texto que encerra a série, já nos anos 90, após a queda do muro de berlim. Depois de uma longa cena discutindo a situação do mundo naquele instante, um dos personagens levanta-se e se dirigindo à nós fala sobre a AIDS: "Essa doença vai levar muitos de nós, mas não todos. E os mortos serão celebrados, continuarão a lutar ao lado dos vivos e nós não iremos embora. Já não teremos mortes secretas. O mundo gira para frente e nós seremos cidadãos. A hora chegou e vocês são todos fabulosos..."

E, ainda por cima, pra que o melodrama não seja tão óbvio em palavras tão pesadas, o texto e os atores conferem ao material um bom humor quase pastelão, como quando o anjo passa um bom tempo sendo puxado pela perna e fala que distendeu um músculo da coxa...


Depois de imergir nestas muitas vidas doloridas por um bom tempo, vemos que eles mudaram, que seja qual for o motivo, houve um impacto, religioso, proveniente de uma doença ou do simples contato humano. O espanto dá lugar à um sentimento de conforto e otimismo. E se, mesmo depois disso tudo, você não conseguir parar pra pensar no seu papel nas mudanças do mundo ou até mesmo no seu papel em fazer o mundo um lugar com mais aceitação e compreensão... eu só posso lamentar. Eu sei o meu!