Duas Caras foi uma novela complicada em muitos sentidos. Complicou por que era incomum até pouco tempo ver personagens tridimensionais em novela. Nessa teve pra dizer chega. Gente que começava prestando e depois de um tempo não valia um peido. Complicou por que Maria Paula foi a mocinha mais incomum de todas e o público não tá acostumado. Complicou por que, de certa forma, o autor foi a maior estrela da obra, o que pra mim é um problema. Complicou por que eu não gosto de novela com núcleo pobre demais e a grande novela aconteceu na Portelinha! Definitivamente é uma novela inesquecível que eu assisti muito pouco.
Há um costume nas séries lá fora em se discutir na internet, se assistir na internet, e pra isso o autor dedica toda uma atenção. Duas Caras foi o mais próximo dessa modernidade que a TV aberta brasileira já experimentou, em se tratando de teledramaturgia.
Comigo acontecia assim, eu começava um capítulo eletrizado... Porra Maria Paula vai rever o Ferraço... Pô a Celia Mara vai invadir o funeral do João Pedro... Porra sei lá a novela hoje parece que vai ser fudendo. E era, até a metade do capítulo quando começava a outra novela e que eu nao gostava. Wisqueria, Jojó e as suas meninas; Alzira e a história que não aconteceu; Movimento estudantil em universidade privada; Sufocador de piranha... Tudo isso pra mim era um tédio.
Me lembro que no início da novela quando isso não existia eu era super empolgado. Lembram do início? Ah... A Marjorie. Que delícia ter uma atriz nova em um papel bom. A mocinha cuja maior motivação era a vingança. Nada pra ela era mais importante, nem a família postiça que ela trouxe por mera conveniência, mas que tentavam tirá-la de seu caminho, puft, não durou. Djanira e sua filha voltaram pro sul! Seu filho, mala insistente nem adiantava pedir, só seria feliz quando ela tivesse o que conseguisse: Ferraço em sua mão, e isso aconteceu da melhor forma possível.
Esse trio aqui sim era motivo pra se ver a novela. Criança em novela geralmente é chato por que é fofinho demais, ou inteligente demais, ou cega demais... Renato não, era uma criança chata e carente, como muitas, e precisava de um garotinho corajoso pra ser tão antipático, não é toa que a Susana Vieira foi logo com a cara e disse que adoraria fazer avó dele algum dia. Marjorie Estiano e Dalton Vigh me dispençam, os fatos comprovam. Ferraço conquistou mesmo não prestando e Maria Paula, bem essa eu amo! Lembrando: Nenhum dos dois era a primeira opção para o papel. Fato que Aguinaldo Silva não poderia ter ficado mais agradecido, vide seu blog e todas as declarações feitas para os dois e principalmente a forma ferrenha com que defendeu o trabalho de Marjoria dos "fifis" como ele dizia (piada interna).
Há cenas em duas caras que eu quero e vou guardar na memória, vão cinco aí:
*Célia Mara apanhando de Antônio depois da morte de Joca. (cena chocante pela crueza de sentimentos, principalmente ódio)
*O funeral de Joca invadido por Célia Mara que foi esbofeteada por Gioconda (um barraco que chocou)
*Maria Paula reencontrando Ferraço na rua e sendo atropelada (fotografia linda, edição linda e marjorie ótima)
*Maria Paula e sua felicidade ao contar pra Ferraço que tinha vendido tudo. (a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena)
*Juliana Knust reencontrando a mãe, aleijada por travessura da filha. (doeu)
*Maria Eva (Spiller) servindo macarrão com salsicha pro filho incrédulo que perguntou se ela mesma tinha feito. Sem pensar ela joga "não filho, foi aquele robô aviadado do guerra nas estrelas que desceu aqui e me ajudou" (uma das melhores tiradas que já vi em novela, ri uma semana disso pode acreditar!)