Já começo me justificando, faz 4 dias que a novela terminou e só hoje eu vim escrever sobre? claro! Assim posso escrever sem fanatismo, sem saudade (mentira), com uma análise mais geral dos 179 capítulos da novela que posso dizer que vi 155.
Paraíso Tropical me agradava desde o (por volta de) final de 2006, quando no final de Belíssima se cogitava Claudia Abreu pra fazer Paula/Taís na nova novela de Gilberto Braga que se chamaria Copacabana e teria como tema principal a prostituição. Muda daqui e ajeita dali vira Paraíso Tropical protagozinada por Alessandra Negrini. Continuei torcendo pra ver uma das minhas atrizes favoritas trabalhando até morrer com dois personagens principais.
Encurtando conversa, em minha opinião (que a despeito da impressão que você possa ter é humilde sim) Alessandra não só deu conta do recado, como provou que é capaz de converter as críticas a seu favor e fazer boa parte das pessoas usarem o mesmo argumento que antes era crítica como elogio. Se percebe isso na maneira "sonsa" como ela criou Paula, a mocinha booooba mas que levou tanto na cara que ficou sarcástica ao ponto de terminar a novela dizendo para queridinha do Brasil Francisbel da Silva que ela um dia ia ter que respeitar alguma lei, nem que fosse a lei da gravidade, por que uma hora tudo aquilo ia cair. Gilberto Braga não é bobo e criou essa analogia pra rebater um dos fenômenos mais interessantes de paraíso tropical que tem se repetido nas suas novelas. Ele cria uma vilã tão elaborada que automaticamente o Brasil se identifica, idolatra, imita roupa, cabelo jeito de falar e tudo mais, daí se esquece a mocinha. Maria Clara Diniz e Paula Sofriam da mesma sina.
Os mistérios eram muitos, no melhor da escola Silvio de Abreu. Antenor odiava o pai, mas o por quê foi segurado até o quase fim da novela. Nely tinha um pé atrás com Joana, até descobrirmos que ela era a principal lembrança do passado rejeitado por Nely, teve muito chão. A morte de Taís nem de longe foi pelos mil motivos que ela deu, foi algo muito mais simples e perigoso, ganância. Olavo odiava o irmão mais novo e, apesar de acreditarmos que sabíamos o motivo, estávamos redondamente enganados. Eu podia cansar vocês com diversos mistérios e houve uns bens desenvolvidos e outros não. Em mais uma opinião modesta: houve MUITO mais acertos do que erros.
Tendo dito essas poucas coisas, me permito chegar aonde realmente quero: Heitor Schneider e Antenor Cavalcante. Quando digo que esta foi uma novela de homens, eles explicam. Seguindo a premissa estudada em qualquer aula de roteiro onde uma narrativa deve levar os personagens a passar por mudanças. Paraíso Tropical deu aula.
Antenor na versão vil e desprezível do início da novela era bicho do mato que não 
se via desde Bruno Mezzenga. Machista, ignorante, mulherengo (pra não dizer raparigueiro) ele foi sendo moldando à partir dos seus próprios traumas e acabou como a grande vítima na trágica morte de "irmãos" no fim da novela. Todo o trabalho magnífico de Tony Ramos pode ser percebido na última cena nos braços de Lúcia dizendo que mais um filho ele perdeu nos braços e com a certeza de que era tudo um castigo, mas que nem ele sabia pra que tanto sofrimento. O que é interessante dessa cena é perceber que o ator que mais teve cenas fortes durante 179 capítulos abriu mão de sua última aparição no vídeo, quando Antenor soube que finalmente seria pai de verdade, escondeu-se atrás das mãos de outra pessoa, não disse uma palavra, mas pelos olhos se percebeu que aquela alegria redimiu um homem que até aquele ponto já havia pagado por todos os desvios de caráter.
Daniel Dantas como Heitor Schneider foi o que houve de mais sensível este ano na televisão. Fazer um homem normal e apagado por natureza é difícil, poucos simpatizam e ninguém quer se identificar com uma mosca morta. Mas reverter isso a seu favor é inteligência pura. Percebendo o papel que tinha nas mãos Dantas abriu mão do jeito cheio de tiques que ele costumava fazer seus outros personagens. Leve nos movimentos (digno de um cozinheiro!) e estranhamente silencioso até no modo de falar, Heitor conquistou a atenção dos brasileiros ao fazer a família, a dele e a minha, perceber a importância das decisões de um pai que abre mão da própria vida para garantir o conforto dos que ama. Indo deste ponto, que desagradaria qualquer ator burro e ambicioso, Heitor chegou ao estrelato literalmente, com direito a programa de TV e tudo, passou por mudanças, namorou/separou e voltou para a mesma mulher e por mais que eu discorde do fim dado ao casal, não posso deixar de reconhecer que a cena do escalda pé numa bacia de plástico vermelho foi a ausência de luxo que tornou Nely uma mulher de verdade pra ela mesma, ao ver que era só aquilo que bastava pra se se sentir bem. A cena de Daniel Dantas que precisa ser lembrada pra sempre foi um dos diálogos mais emocionantes da novela: no casamento de sua filha, fez a sua primeira chantagem cujo objetivo era se consolidar como homem infeliz perante toda sua família e evitar que a filha se casasse com o rapaz que se usou do ponto frágil de uma mãe e a insegurança de um pai para prender numa promessa que apenas servia ao ego dele. (há um texto aqui no blog sobre essa cena em particular)
Há muito o que se falar de positivo das mulheres em Paraíso Tropical, Nely, Dinorá, Taís, Lúcia (Gloria Pires MARAVILHOSA), Hermínia, Marion, Bebel, Alice, Joana, Camila, Tatiana, Márcia Maria, Carol e muita gente. As novelas brasileiras já estavam com muitos nomes no lado das mulheres nesse jogo, Nazaré, Maria do Carmo, Bia Falcão, Julia Assumpção, Branca Letícia de Barros Mota, Marta, Helenas, Santana, Heleninha Roitman, Maria de Fátima, Laura Prudente da Costa, Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque e etc etc etc. Paraíso tropical pelo contrário, seja de propósito ou não, essa foi uma novela que marcou por Olavos, Heitores, Antenores, Freds, Cassios, Clementes, Danieis(?), Lucas's, Gustavos, Sergios Otávios e os que não me recordo. E no plural mesmo, pois nenhum deles começou a novela sendo a mesma pessoa que terminou.
